ela chegou a pôr tudo em causa. a beleza de uma vela e de um pau de incenso acesos. a asfixia provocada pelo som de didjeridus e djembes. a magia das fadas e dos duendes que decoravam quartos e conversas. os rabiscos a lápis nos livros que outros tão pouco estimavam. os sentidos dados ao sol, à lua e aos seus eclipses e outras teimas. as filosofias discutidas noite dentro entre copos e cigarros – eram sempre dois ou três a recolherem-se num canto de um bar a discuti-las, longe da espuma das noites, interrompidos de quando em vez por alguém que comentava: “lá estão eles com aquelas conversas sobre essência”…
ela pôs tudo isso em causa e até a memória de quando andava descalça e de cabelos ao vento nos Montes Cantábricos, olhando para lá do horizonte e fazendo deslizar fitas no ar como se saltimbanco fosse. ainda escreveu sobre “essência”, “dilema”, animação de rua, fogo, dança quando chegou à universidade e os professores davam-lhe essa liberdade. depois cresceu (ou envelheceu). esqueceu (ou adormeceu). cansou-se de lutar contra quem a desacreditava e sobretudo contra as imposições do relógio. estudar, trabalhar, fazer currículo, conseguir o lugar, tentar um novo, recomeçar, voltar a estudar, trabalhar noutras coisas, mostrar, provar, vencer, casar, arrumar, limpar, fazer mais, ter mais, esperar mais… e catalogar tudo o resto de loucura e adolescência. “tolices!”, dizia.
tolice, de facto. foi preciso sentir-se esgotada, velha, feia, gorda, oca e levar “bofetadas” e “murros” para gritar “chega”. foi preciso pôr-se novamente debaixo da Via Láctea e sentir os pés a estourar pele, ossos, unhas. foi preciso correr debaixo de chuva, chuva a bater-lhe na cara, chuva a confundir-se com lágrimas antes de voltar a descalçar-se e a sentir o chão que sempre lhe pertenceu. o Tai Chi e o Yoga deram-lhe o empurrão final. sentiu-se corpo, vida e alma… e então recuperou tudo o que havia perdido.
Mas que excelente memória!
Mais tarde ou mais cedo o sentido da vida acaba por vir à tona, e exige de nós a coragem e a lucidez para caminhar à verdade – a nossa verdade, não a dos outros. São as reviravoltas da vida. Ou melhor, da existência.
E adorei o teu estilo narrativo – inspirador.
Estarei atento para ler mais.
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que bom ter-te de volta a esse outro tempo em que, não te tendo conhecido, já te havia escolhido para esse lugar que virias a ocupar. “só o presente importa”, disse eu. assim me sinto e nada importa mais do que isso, realmente: hoje, aqui, agora, caminhamos lado a lado. namasté amiga*
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namasté, VH e empiramideinvertida. tão bom ter-vos comigo sempre.
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foi aqui que tudo começou… um simples convite! Obrigada :))))))))))) namasté.
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namaste 😉
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