agora que o frio se instalou e as tempestades de inverno lá se vão manifestando, antes que comecem a reclamar do tempo e com saudade do calor, por que não celebrar o melhor desta estação? ainda para mais, este é um período de eleição para se ser hygge, que por sua vez pode bem ser o segredo dinamarquês para se ser feliz…
tenho por hábito acolher muito bem o que cada estação do ano tem para nos oferecer. acredito mesmo que devemos fazer este exercício, o de vivermos cada tempo no seu tempo, plenamente. penso que é também aí, nessa predisposição, que se encontra muito do equilíbrio que procuramos. e, se entre os teus desejos de ano novo estavam paz e felicidade, parar de reclamar e tirar o melhor partido desta estação pode bem ser o caminho.
o testemunho maior é o povo dinamarquês, que, apesar do clima péssimo que tem, é tido como o mais feliz, de acordo com o Relatório sobre a Felicidade Mundial, encomendado pelas Nações Unidas. “os dinamarqueses, muito simplesmente, não permitem que o clima ou as leis da natureza definam o seu bem-estar emocional”, diz Meik Wiking, presidente do Happiness Research Institute, em “O livro do hygge — o segredo dinamarquês para ser feliz”.
claro que estamos a falar de uma outra realidade político-económica, sociocultural, mas, suprimidas as necessidades primárias, o que explica a felicidade? se compararmos os países nórdicos, o que explica ser a Dinamarca o país mais feliz? é isso que Meik Wiking investiga e, no seu livro, expõe: “pode haver um ingrediente que tem passado despercebido na receita dinamarquesa de felicidade: o hygge”.
“o livro do hygge”
apesar de a publicação ser de 2017, continua a ser provavelmente a mais completa e que nos oferece o melhor entendimento do que o hygge é ao certo, convidando-nos a aprender com os dinamarqueses no que toca a felicidade. o conceito — e, na verdade, característica definidora da identidade cultural deste povo — pronuncia-se “hooga” e, como a “saudade” para os portugueses, não tem tradução.
“arte de criar intimidade”, “conforto da alma”, “ausência de aborrecimento”, “ter prazer com a presença de coisas apaziguantes” são algumas tentativas de explicar o hygge, contudo o autor garante: tem é de ser sentido. a palavra tem origem num termo da língua norueguesa que significa “bem-estar” mas é muito mais do que isso e daí encontrarmos no livro descrições e pormenores que vão desde o ambiente de casa (como baixar luzes e usar velas) às relações (enquanto campo de manifestação de igualdade, harmonia e convívio), ao vestuário (roupa quente e descontraída), à comida (com destaque para o café e bolos, sobretudo caseiros), enfim todas as dimensões e todos os catalisadores do hygge.
pode bem ser a combinação do melhor que se leva do slowliving, do mindfulness, do “essencialismo”, do contacto com a natureza, de uma vida simples e minimalista, pois o hygge é também, explica Meik Wiking, “humilde e compassado, escolher o rústico em vez do novo, o simples em vez do requintado, o ambiente em vez da excitação”. “é sentir felicidade com prazeres simples e saber que vai correr tudo bem”, diz ainda, “é a sensação de estar em casa” ou num qualquer “ambiente caloroso, descontraído, amigável, terra a terra, íntimo, confortável, acolhedor e convidativo” onde nos sentimos amados, quentinhos, seguros.
os meus 7 momentos hygge favoritos
em resumo, parece que a máxima “é tirar o melhor partido do que temos em abundância: o dia a dia”. neste contexto, estes são os meus momentos hygge favoritos. nos comentários, continua e completa com os teus!
- aninhar-me no sofá com marido e gatinhos, enrolados numa mantinha, a ver televisão ou a ler. tanto faz se está sol — e aí alinhamo-nos e deixamos que ele entre pela janela e nos aqueça — ou se há tempestade lá fora, e então podemos admirar e escutar as rajadas do vento e os pingos da chuva a bater na janela.
- dias por casa (ainda que a trabalhar) serenos, a permitirem que se cumpra uma tarefa de cada vez, e em que o traje pode bem ser feito das calças mais confortáveis, da camisola mais quente e das meias de lã mais grossas.
- conviver com a família na casa dos meus pais, numa sala aquecida pela lareira e com o cheiro dos assados que chegam da cozinha, à volta de uma mesa farta ou de jogos de tabuleiro, melhor ainda se tiver acompanhado a confeção dos doces e lambido a colher de pau.
- amigos reunidos na minha ou na casa deles, para comer e beber e conversar e lamentar e rir e desejar repetir.
- estar no meu canto-refúgio cá de casa: puf, mantas e almofadas junto de uma janela, com vista para flores e céu, com livros e cadernos por perto, para estar só, a ler ou a escrever (quando o lugar não é tomado pelos gatinhos!).
- derreter chocolate para barrar bolachas maria ou preparar café.
- espalhar pela casa objetos comprados a artesãos durante passeios em família ou outros materiais recolhidos na natureza, como cristais, pedras, pinhas.