trilhos pela serra da cabreira

a propósito do meu último texto aqui no blogue – caminhar natureza adentro -, apresento-vos hoje um casal que já não sabe viver sem, precisamente, este tipo de caminhada. e que são meus convidados a por aqui partilharem trilhos e o seu olhar sobre os mesmos.

Teresa (minha irmã mais velha, 53 anos) e Mário (meu cunhado, 57 anos) não passam um fim de semana sem explorar um percurso pedestre e testemunham que caminhar na natureza é “uma felicidade imensa, que não dura apenas o momento mas que se prolonga pelos outros dias”. casados há 35 anos, sempre gostaram de viajar pelo país e pela Europa afora, primeiro de carro, depois de autocaravana, a um ritmo muito próprio e sobretudo nas férias grandes de verão.

só mais recentemente, com os dois filhos bem crescidos e a fazerem as suas vidas, é que sentiram a necessidade de ter mais tempo para si próprios ao longo de todo o ano. ele começou por virar-se para o ciclismo e ela para a corrida, primeiro por estrada e depois por trilhos, e aí nasceu o “bichinho” pelas caminhadas na natureza: “começámos a descobrir percursos fantásticos mas, à velocidade a que íamos, perdíamos as paisagens, o que era uma pena!”, confessam. pesquisaram-se percursos; fez-se uma lista dos “por fazer” no curto, a médio e a longo prazo; somou-se o empurrão de um outro casal já experiente nestas andanças e que virou companhia regular… e nunca mais pararam.

garantem que “há verdadeiros tesouros ao virar da esquina” e que três quilómetros podem demorar três horas a ser percorridos porque o que interessa é “ir devagar, a desfrutar, a sentir, a cheirar, a observar”. descobriram que a caminhar o tempo altera-se, memórias e emoções armazenadas dentro podem vir ao de cima e aí tudo se reequilibra e harmoniza, preocupações e stresse do quotidiano desaparecem. também já ultrapassaram alguns medos. e garantem: “às segundas-feiras não nos custa levantar e ir trabalhar, sentimo-nos plenamente revigorados.”

desejando trazer-vos inspiração para este trio que tanto me apaixona – caminhar, na natureza, por Portugal -, desafiei a Teresa e o Mário a partilharem por cá os seus percursos. passam assim a serem os meus primeiros convidados e colaboradores permanentes a escreverem neste blogue mensalmente.

Trilhos Cabeço de Vaca e Túrio
por Teresa e Mário Malheiro

integrados num grupo formado e conduzido pelos Solas Rotas, fomos percorrer, numa espécie de dois em um, parte dos percursos pedestres Cabeço da Vaca e Túrio, situados predominantemente na encosta norte da Serra da Cabreira, em Vieira do Minho. o Parque de Merendas de Serradela foi o ponto de encontro para o início e termo do trilho.

feitas as apresentações e após uma breve explicação, iniciou-se a caminhada… a desfrutar nas calmas. estava frio, o termómetro registava 5 graus celsius e o vento aumentava o desconforto térmico. o dia amanhecera muito farrusco, ameaçando chover. pensámos que, nos primeiros três quilómetros, sempre a subir, seria o suficiente para aquecer. como nos enganámos! a exposição ao vento norte quase nos fez gelar.

mas atingido o ponto mais alto, o Cabeço de Vaca, a 983 metros de altitude, as paisagens com vista para a Cabreira e para o Gerês são espetaculares – pena o tempo encoberto, a não permitir a visualização em pleno! também começaram a cair os primeiros aguaceiros, não podíamos ali permanecer pois não havia corta-vento que nos protegesse!

iniciou-se então uma longa e difícil descida de quase cinco quilómetros, trilho maioritariamente por estradão, com muitas pedras soltas. aqui o uso de bastões foi essencial – os joelhos agradeceram. entretanto deixou de chover e, ao contrário da subida, que se fez pela encosta norte, desceu-se pela encosta sul, já protegidos do vento e, por isso, o frio deixou de incomodar.

já no término deste trilho, a paisagem muda, a vegetação escassa dá lugar a uma floresta de espécies folhosas e coníferas, e embrenhamo-nos finalmente no trilho do Túrio, que se desenrola no coração do rio com o mesmo nome. esse contacto com o mais belo da natureza transmitiu-nos uma imensa tranquilidade. a antiga casa do guarda-florestal local, que se encontra em ruínas, foi o lugar escolhido para almoçar.

depois, retomado o caminho, o olhar maravilha-se com o que alcança: os musgos são tão verdes que mais parecem telas acabadas de pintar! gostávamos de aqui ter permanecido mais tempo mas caminhar em grupo condiciona-nos – não podemos correr o risco de nos afastar dos restantes companheiros. o trilho continua por uma subida que nos parece levar ao céu, subimo-la nas calmas quase de “gatas”. “elas não matam mas moem” coube-nos na perfeição. ainda assim, no fim da subida fomos brindados com a presença de vários Garranos. cansados mas maravilhados.

no final, já com a chuva e o frio de volta, foram 5h40 bem passadas e em boa companhia.



distância: 14,500 m / 625 m de acumulado positivo / grau de dificuldade moderado.

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