espiritualidade: afinal do que se trata? (II)

continuação da trilogia iniciada com a publicação do post  “espiritualidade: afinal do que se trata? (I), em 20/01/2019.

o despertar

foi a correria dos dias. a intensidade da vida académica. as exigências do mercado de trabalho. as minhas próprias exigências sobre o que a vida tinha de ser. e todos à tua volta irem no mesmo sentido e dizerem-te “é mesmo assim”. não que a vida não tenha continuado e trazido muita coisa boa. claro que sim. mas aquela miúda cheia de empatia pelo universo e cheia de fé perdeu-se. cheguei a pensar que não mais faria o Caminho de Santiago, só porque não, porque havia crescido, porque talvez a minha maluqueira fosse só isso, maluqueira. é muito fácil cair na corrente, esquecermos quem somos e passarmos a ser quem a sociedade ou o tempo nos faz ser. e então podemos ter tudo – emprego, carro, casa, marido… – mas isso não nos sacia.

aos 30 anos, quando a vida me dá um valente “não” aos padrões mais expectáveis, senti-me empurrada para o abismo. senti-me sem chão. voltaria ao Caminho de Santiago em 2013, dez anos depois de ter feito o primeiro, para fugir da realidade, para estar sozinha, para me ouvir, para procurar sinais.

foi o Caminho de Santiago que me despertou. novamente. eu e a minha essência. eu e a minha espiritualidade. quando cheguei e abracei o apóstolo, como mandava a tradição, criei laços que não se desfazem. compromissos com quem ali me guiou e comigo mesma. e a partir daí abri o peito e veio tudo: práticas e formações, retiros e festivais, os livros de Eckart Tolle e de Louise Hay, mestres e o tai chi, o chi kung, o yoga, o reiki, a meditação, os cristais.

não, não passei a usar vestes brancas – na verdade, gosto de preto e visto muitas vezes preto; não, não passei a querer ouvir apenas o som dos pássaros – adoro, na verdade, música rock, do duro, do hard, ou até mais grunge, metal, punk. também não passei a ser uma pessoa meticulosamente calma, pacífica, toda zen – posso não reagir tão rápido e tantas vezes mas, se me tiram do sério, levo tudo à frente!

tratou-se muito mais de um abrir de portas para o autoconhecimento e crescimento pessoal e para o apoderamento e desenvolvimento de princípios, valores e comportamentos que me conduzissem todos os dias a uma versão melhorada de mim mesma. tratou-se de tomar as rédeas da minha vida, de as perder por completo umas quantas mais vezes – sofri dois abortos, passei por uma depressão e mais recentemente descobri ter uma doença autoimune (sobre a qual espero falar brevemente), para logo entender de cura. autocura.

por isso desengane-se quem pensa que este é um caminho fácil. foi, para mim, andar numa montanha-russa, mergulhar fundo no meu ser e em todas as minhas emoções. quantas vezes um vazio e escuridão. foi tão bom quanto duro e confuso. foi uma metamorfose.

(continua brevemente)

  1. Tenho acreditado que as escuridões por onde se passa ao longo da vida, desenvolvem mais sensibilidade aos pequenos fios de luz, e que com esta sensibilidade conseguimos ver o potencial das coisas desapercebidas, dos pormenores, da relação aos outros… acho que se aprendeu assim a conseguir encontrar força e Luz a nossa volta, simplesmente Parece-me que tua experiência de vida me conta isso também

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  2. Identifico-me muito com o que sentes. Este confrontar das sombras não é nada fácil. Sobre a roupa e a música, amiga, não podemos perder a nossa identidade! Ainda bem que não mudaste nesse aspecto! No meio de tanta transformação há coisas que são muito nossas e não devemos deixar de gostar delas só porque meio mundo possa achar esquisito. Estou contigo na caminhada!

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    1. obrigada! na verdade, faço essa triagem com tudo… alimentação: não temos que ser vegetarianas; reike: não temos que fazer auto-tratamento diário e completo aos 7 chakras… e podia continuar e continuar… mas isso dava mais um conjunto de textos (vamos ver se consigo escrever mais vezes e mais regularmente!). obrigada por estares comigo!

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  3. Gostei muito e mais uma vez identifico-me bastante com o que escreves. Não é nada fácil passarmos pelas situações e enfrentar as nossas sombras, mesmo sabendo que podemos aprender muito com elas. E é super-importante mantermos a nossa identidade, até nas pequenas coisas como a música que puvimos. Estamos juntas. Obrigada por partilhares.

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