o gerês esquecido

o verão anda tímido mas não nos faltam ganas para o viver. façam-se, por isso, planos porque o calor não tarda e é tempo de sair e acolher o melhor desta estação. cá por casa já se contam os dias para as férias e, até lá, avivam-se as memórias de um dos nossos últimos destinos: Terras de Bouro e Parque Natural da Peneda-Gerês.

foram apenas quatro dias/três noites, ainda assim desfrutados sem pressas e aproveitando o melhor da zona: as serras e paisagens de um verde exuberante apenas cortadas pelos cursos dos rios que as atravessam e os lugarejos que mais parecem esquecidos no tempo.

sim, o território em causa é extenso e os atrativos são mais que muitos – todos eles repetidamente mencionados em qualquer guia de turismo, como as termas do Gerês, a aldeia comunitária da Ermida, as cascatas do Arado e do Tahiti – e, por isso mesmo, é um destino a repetir-se até lhe explorarmos todas as maravilhas que tem para oferecer. mas trocámos os roteiros que vêm nas revistas e seguimos antes os conselhos da Ana Sousa, proprietária da Casa do Eido, em Valdosende, onde pernoitámos, conseguindo assim contornar as multidões típicas da época (fomos em pleno agosto) e explorar o que há de mais genuíno.

decidimos assim dividir os nossos passeios por dois percursos distintos, que recomendamos a quem prefere sossego, história e natureza.

pelas aldeias de Terras de Bouro

no primeiro percurso exploramos as aldeias fronteiriças com o Parque Natural da Peneda-Gerês, em Terras de Bouro, tendo como ponto de partida Valdosende e destino a Albufeira Vilarinho das Furnas.

Abadia

Abadia foi a primeira paragem (e asseguro-vos: é de visita obrigatória!). localizada na encosta de uma montanha, completamente isolada, esta aldeia é rodeada por uma natureza virgem e um silêncio ritmado pelo som do ribeiro e das quedas de água que há ali mesmo ao lado. aqui destaca-se um terreiro ladeado de plátanos e que dá acesso ao adro do Santuário da Nossa Senhora da Abadia, construção dos séculos VII e VIII, considerado o templo mariano mais antigo de Portugal. à sua esquerda destaca-se ainda uma gruta cavada na pedra da montanha, com uma fonte e imagem de Nossa Senhora.

Santa Isabel

seguiu-se a aldeia de Santa Isabel do Monte, com uma pausa junto à Igreja de Santa Isabel, por aquelas horas apenas procurada por vacas e bois da raça cachena e cavalos selvagens. já em Brufe, terra mais árida, pintada por espigueiros, casas e ruelas graníticas, só vimos uma senhora bem idosa, vestida de preto, toda curvada, carregando às costas um monte de palha. a fome apertou à chegada de Covide e aí sabíamos que não podíamos perder a oportunidade de almoçar umas pataniscas de bacalhau com arroz de feijão no Cantinho de Antigamente, restaurante de cozinha rural com uma generosa vista sobre a serra.

Brufe 

para quem dispuser de mais tempo, há muitas mais aldeias para conhecer ao longo deste percurso, além dos vestígios romanos, museus arqueológicos e outros locais para aventura e desportos náuticos – é só consultar um mapa e consegue-se “picar” todos estes pontos de interesse. mas nós tivemos de saltar isso tudo, dirigindo-nos finalmente para a Albufeira Vilarinho das Furnas, onde ainda se encontram vestígios da aldeia engolida pelas águas da barragem em 1791. até lá, é de se aproveitar as vistas de tirar o fôlego de que se usufrui pela estrada que percorre as margens do Rio Homem. todo um miradouro natural.

Albufeira Vilarinho das Furnas

no regresso a Valdosende, optámos pelas N307 e N308, rentes ao parque natural, e assim finalizamos o percurso em S. Bento da Porta Aberta, que depois de Fátima é o templo religioso mais visitado do país – edifício a céu aberto e por isso interessante visitar – e ainda piscámos o olho à Marina do Rio Caldo.

parque natural adentro

o segundo percurso tem início na Albufeira da Caniçada, no Rio Cávado, que alberga nas suas margens bonitas praias fluviais. mas, como não podia deixar de ser, a nossa intenção era explorar o Parque Natural Peneda-Gerês, primeira área protegida criada em Portugal, única com estatuto de parque nacional, devido à riqueza do seu património cultural e natural, com ecossistemas quase intocáveis.

Ermida

antes de seguirmos para norte – o destino final era Portela do Homem, na fronteira com Espanha –, fizemos um desvio para nordeste, de forma a avistar a aldeia comunitária da Ermida e a fazer uma paragem pelo miradouro de Pedra Bela. por aqui não nos demorámos – as romarias eram muitas com prejuízo para qualquer encantamento – mas para quem o desejar é por ali mesmo que também se avistam as direções para as cascatas mais famosas – a do Arado e a Tahiti.

Miradouro Pedra Bela

de regresso à N308, aproveitámos a passagem pela vila do Gerês para almoçar e depois seguimos para Portela do Homem, atravessando devagar devagarinho a Mata de Albergaria, um dos mais importantes bosques do parque, anfiteatro gigante da natureza, cheia de recantos agrestes e riachos. guarda também um troço da via romana, com as suas pontes e marcos miliários. para maior preservação desta tão frágil área, o trânsito é controlado e são proibidos as paragens e os estacionamentos. mas vale tanto a pena!

Lagoas no Rio Homem

e a valer ainda mais a pena: chegados à fronteira, consegue-se largar o carro e meter os pés a caminho… da cascata ali ao lado ou de lagoas. mais uma vez fugimos à romaria e seguimos por um trilho assinalado à entrada do bosque, mesmo em frente à fronteira. em 15 minutos estávamos nas lagoas do Rio Homem, bem perto da Ponte de São Miguel, àquela hora, início da tarde, quase só por nossa conta (dizem que de manhã ainda estão mais isoladas!). depois de todos os passeios, todas as vistas, aquele bosque denso, aquela água cristalina… levou-nos à rendição final.

asseguro-vos que o Expresso não exagerou quando, num “Guia de Portugal”, referiu que, “nas matas do Ramiscal ou de Albergaria, no vale do Homem ou embrenhado na serra do Gerês, vive-se uma exuberância natural sem paralelo em Portugal”.

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