porque, na hora de dormir, me levavas às cavalitas para a cama e te perdias comigo a contar estórias tolas que inventavas e repetias só para me fazer rir. porque, nesse percurso, me ensinaste a baixar a cabeça para não me magoar nos tectos mais baixos e antes os conseguir fintar com turras. porque, quando cresci e me achei mulher, e tu na tua forma de ser (coisas da tua geração) achaste que não podias mais meter-te nos meus assuntos, ficaste a observar-me à distância, segredando com a mãe, e assim continuando a acompanhar-me e a proteger-me. porque, quando meti o pé na poça, foste capaz de me defender e tirar dela. porque (sei-o agora) nunca me deste um não que travasse os meus mais importantes passos. porque, quando me viste a voar para longe de ti, primeiro para a universidade e depois para junto da minha cara-metade, mesmo que com lágrimas nos olhos, me ajudaste a carregar as malas, a decorar as novas moradas e te deixaste, até hoje, de braços abertos para qualquer regresso.
porque, como o pai de Jesus, carregas José no nome, tens mãos de carpinteiro e soubeste ficar a ver mulher e rebentos a armarem as suas enquanto tu formavas uma rede invisível para os amparar e empurrar todo o tempo.
por tudo isto e por tanto mais indizível, amo-te, meu pai.