presença e vigia

há quem diga que sou zen e quem venha desmentir porque me conhece explosões de raiva ou outra ordem de perturbações. mas quem disse que zen é estar numa nuvem a planar no céu todo o tempo, longe de quaisquer transtornos e atropelamentos? somos humanos e a nossa condição tridimensional é bastante desafiante. e às vezes precisamos mesmo de nos defender – como um mestre de tai chi uma vez me disse: “vivemos numa selva e não num mosteiro no meio de uma montanha!”

o que, para mim, faz sentido é a capacidade de nos observarmos, nos desindentificarmos e sairmos mais rápido, mais vezes, dos estados que nada nos acrescentam. essa é a nossa liberdade: a de optarmos por aquilo que nos deixa leves, tranquilos, bem. mesmo nas circunstâncias mais frustrantes, pesadas, podemos optar por perguntar “o que temos a aprender” e seguir caminhando, procurando uma melhor versão para nós, para os nossos dias, para o maior bem de todos.

há uma semana atrás, cá por casa, houve sustos na saúde e surtos de dor. houve horas passadas em hospitais e um quanto basta de situações a serem questionadas, reclamadas, gritadas. e não vou dizer que estive calma todo o tempo. muito menos confiante. mas vigiei-me. e então não sucumbi à frustração: aproveitei a paragem forçada no trabalho e as horas em locais menos apetecíveis para abrandar as divagações inúteis da mente e escutar as aprendizagens que tudo me trazia, definindo os próximos passos. reagi ao medo e ao vómito, respirando. encetei a batalha necessária quando dependemos de terceiros e/ou terceiros estão a depender da nossa força mas só até ao limite do que era capaz de mudar, entregando-me depois aos meus anjos e guias. não perdi tempo com o livro de reclamações para perder-me antes em elogios junto de quem foi profissional, esmerado e humano.

trago-vos assim estas reflexões: é-se apenas zen quando não se reage aos distúrbios mundanos, sendo-se imaculadamente calmos e confiantes ou será também válido atingirmos esse propósito no quotidiano com um maior estado de presença, consciência e vigia? vale a pena alimentarmos a raiva, a frustração, a tristeza, o medo, o descontentamento ou optarmos pelo seu contrário? pedir o livro de reclamações ou inventar um livro de honra? resistir, demorar e permanecer no que nos faz mal ou largar, deixar fluir e libertar-se?

ouvi por estes dias que a vida não é o que nos acontece mas o que fazemos com aquilo que nos acontece (Norman Vincent Peale). e assim é.

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três dicas muito simples que funcionam para mim:

  •  num momento de tensão, voltar a atenção para a respiração e respirar, profunda e longamente, observando o movimento da inspiração e da expiração no nosso corpo. e levo o tempo que precisar até sentir o ritmo cardíaco (e qualquer estado de dor) a abrandar. (e, para saber respirar e controlar o mental e emocional, ajuda muito praticar yoga, tai chi ou meditação.)
  • colocar num papel toda a fúria, espernear e gritar através da palavra escrita… reservar a folha, ir fazer outra coisa qualquer, e só mais tarde voltar a ela e relê-la. talvez nada daquilo faça mais sentido. ou seremos seguramente mais seletivos (honestos e generosos) nas nossas reações.
  • questiono-me “o que tenho a aprender com isto”, recito (e tento orientar-me por) 5 princípios: sou calma, confio, sou grata, trabalho honestamente e com generosidade (para comigo mesma e para com os outros).

(também é possível ter vontade de “mandar tudo isto às urtigas”. mas afinal estamos aqui a aprender, continuamente. e, por isso, a partilha dos vossos desafios ou dicas será muito bem-vinda!)

  1. Esse Norman tem toda a razão: isso é o karma e não o que as pessoas erradamente falam de what goes around comes around, pelo menos assim tão linearmente. E Zen não é um estado calmo, mas sim de alerta. Tens toda a razão nessas dicas. Mostra muita maturidade nesta selva. ❤️

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