desenha desde que se conhece e, com os pés bem assentes na terra, foi também desenhando o seu trajeto profissional na área do design gráfico e da ilustração. natural de Paramos, Espinho, e a viver em Barcelona, hoje trabalha como freelancer e tem um talento que não mais acaba. uns retratos do Eddie Vedder e do Keith Richards, que me vieram parar cá a casa, é que me convenceram disso. a energia do seu traço fez o resto e convenceu-me a escolhê-la para a renovação do meu blogue e do seu logótipo. na semana em que celebro um mês sobre este refreshing e no dia em que ela completa 31 anos, a essência dos dias dá a conhecer Isabel Loureiro, também conhecida por Isa.
a essência dos dias: antes de te conhecer como designer gráfica, conheci-te como ilustradora. podemos dizer que, antes de designer, és ilustradora?
isa: fiz a minha licenciatura em Design na Universidade de Aveiro e, por isso, oficialmente sou designer, embora o design gráfico tenha sido para onde me levaram as coisas. na ilustração sou autodidata, fui fazendo uns cursos aqui e ali, aprendendo com outras pessoas que sabiam ilustrar… claro que também aprendi muito, na escola secundária e na universidade, com as disciplinas de desenho, tendo tido muitos bons professores por quem guardo muita estima e carinho. por casualidade, estou agora a fazer um curso de um ano em ilustração, algo mais sério após o que vou depois poder dizer que sou formada também nessa área. mas gosto de desenhar desde pequena, sempre me dediquei a isso nos tempos livres e, sempre que podia, fazia trabalhos nessa área.
a essência dos dias: então foi a ilustração que te empurrou para o design gráfico? é essa a tua maior vocação?
isa: claro que sim! dizem que já desenhava na barriga da minha mãe [risos]! não sei dizer quando isso aconteceu, mas lembro-me de começar por copiar os desenhos da Disney e de tentar fazer o mais parecido possível, de passar horas sozinha entretida a desenhar e de não querer fazer outra coisa, de acabar um desenho e ter logo de começar outro. desde a escola primária que os trabalhos manuais e a ilustração eram o que mais me interessava. na altura de escolher a área de formação profissional, não tinha dúvidas que queria artes mas tinha medo – sabia que era difícil seguir uma carreira em belas artes. então, resolvi aproveitar o meu jeito para desenhar e seguir design gráfico – até porque saber desenhar é um requisito para grande parte do trabalho nesta área.
a essência dos dias: e pode-se dizer que tem corrido bem… como chegaste a freelancer em Barcelona?
isa: quando acabei a licenciatura, não encontrei mestrados que me interessassem – nenhum que tivesse que ver com ilustração –, e então comecei a procurar um estágio mas, ao fim de um ano, não consegui um único que me pagasse as despesas de deslocação. pelo caminho ainda fiz um curso de fotografia digital e um outro de web design. já depois disso, e através do programa universitário Leonardo da Vinci, consegui um estágio em Barcelona, na Wassabi, e, ao que parece, gostaram de mim [risos] – fiquei lá a trabalhar durante sete anos e ainda por cima a desenvolver alguns projetos que envolviam ilustração! só há um ano decidi aventurar-me como freelancer. e, sim, tenho tido a sorte de encontrar clientes e projetos interessantes…
a essência dos dias: que tipo de projetos tens desenvolvido e quais aqueles de que mais gostas?
isa: colaboro grande parte do tempo com uma empresa de arquitetura corporativa, desenhando novas marcas para empresas e escritórios, fazendo a decoração de lojas, menus para restaurantes… faço também apresentações e flyers para uns arquitetos e formadores… mas o que sai melhor é mesmo o desenho de logótipos.
a essência dos dias: e onde fica a ilustração no meio disto?
isa: sempre que posso, tento incluir ilustração no meu trabalho, claro que sem me impor ao cliente (adapto-me sempre àquilo que o cliente necessita e principalmente ao público que vai receber esse material). lá está a vantagem ter estudado design: deu-me essa capacidade de adaptação, de saber pôr-me no lugar do outro e de entender que, às vezes, não é só preciso desenhar um logótipo, como me pediram, mas é preciso pensar na comunicação global (e eu também aconselho sobre isso). e também tenho feito alguns trabalhos de ilustração a pedido de particulares, como retratos para paredes. mais recentemente fiz a capa de um livro (“Las Luces del Trabant”, relato de Carlos V. Fresneda).
a essência dos dias: e o processo criativo, como se dá? é espontâneo?
isa: não, nunca! é preciso falar com o cliente, entender o seu negócio ou serviço, saber que tipo de pessoas é que se interessa por ele. enfim, tento ser o mais empática possível. depois disso, há muita investigação, é preciso ver o que é costume fazer-se. e é aí que entro com o meu estilo, com a minha maneira de desenhar – para fazer diferente!
o gozo de trabalhar com as mãos e as contradições do íntimo
a essência dos dias: então a essência dos dias acertou em cheio ao escolher-te para a renovação do seu logo, porque procurava “aquele” estilo, “aquele” traço! e, neste caso, tiveste que pôr, literalmente, mãos à obra!
isa: sim, sim! foi muito divertido! foi das poucas vezes em que tive a oportunidade de desenhar um logótipo à mão – no final, tinha aqui uma montanha de papéis com as mesmas palavras escritas mil e umas vezes, e daí selecionei uns 50 para depois conseguir chegar às 3 propostas que te apresentei porque, se fosses ver tudo, podias forrar com isto as paredes da casa! é o que me dá mais gozo fazer: trabalhar com as mãos! o computador, de facto, serviu-me de muito pouco, até porque, para o tipo de utilização que precisavas e o tipo de mensagem que querias transmitir, tínhamos de fazer algo manual, tratado com muito carinho, dar-lhe muito carácter. a própria textura do logo tinha que transmitir naturalidade, intimidade.
a essência dos dias: e como te posicionas em relação às temáticas abordadas neste blogue? consideras-te uma pessoa espiritual?
isa: para fora, revelo-me extremamente cética; por dentro, sou muito espiritual. é um tema difícil, para mim; muito vivido no meu íntimo, de tal maneira que posso até reconhecer-me no tipo de conteúdos que aqui se partilha mas teria muita vergonha em falar sobre isso.
a essência dos dias: portanto, gostas de reservar as tuas questões, reflexões, crenças só para ti?
isa: sim, até porque, dependendo dos dias, umas vezes penso de uma maneira e outras vezes de outra. a minha fé na humanidade vai variando muito. tenho muitas contradições dentro – tanto tenho certezas, como fico a contemplar a imensidão da realidade, cheia de dúvidas. e então prefiro nem discutir o tema com as pessoas, porque realmente não estou assim tão segura sobre aquilo em que acredito ou não. mas gosto muito de saber o que as outras pessoas pensam e, sempre que posso, comparo isso com a minha maneira de ver e tento assim crescer um bocadinho também. fico contente por constatar que existem este tipo de blogues, porque realmente hoje as pessoas estão a afastar-se muito desse lado espiritual, de si mesmas e, às vezes, é preciso fazer das tripas coração e falar-se disso.
do pacatez de Paramos à movida de Barcelona
a essência dos dias: a viver em Barcelona, no epicentro da tensão política entre o governo de Madrid e a Catalunha, estarás então num desses momentos em que “a imensidão da realidade” te silencia as certezas?
isa: sim, este momento em particular está complicado. eu não nasci aqui, não entendo a história da Catalunha como as gentes que aqui viveram toda a vida, mas já vi o suficiente para entender que esta tensão é muito má e ambos os lados estão-se a portar muito mal. não sou contra nem a favor da independência, sou sim por aquilo que a maioria decide porque, quando a maioria decide, tudo se faz para que funcione bem. isto não passa de uma briga de miúdos e só sofre quem aqui vive.
a essência dos dias: ainda assim não te demovem de Barcelona…
isa: já estou aqui há nove anos, por isso são de facto muitas as coisas que me agarram à cidade, a nível pessoal e profissional: criei cá as minhas amizades; tenho o meu namorado; continuo a encontrar projetos em que gosto de trabalhar e várias possibilidades de continuar a estudar (aqui há cursos e workshops de mil e uma coisas e eu gosto muito de experimentar coisas diferentes!); é uma cidade onde tens tudo à mão – não precisas de sair de carro para ir ter com alguém ou encontrar algo de que precisas; e o consumo de cultura é impressionante…
a essência dos dias: uma movida bem distinta da que tinhas em Paramos, Espinho, onde nasceste e ainda tens a tua família…
isa: mudar de Paramos para o centro de Barcelona foi de facto um choque: aqui há muitos tipos de pessoas; mentes abertas que aceitam qualquer tipo de personalidade ou maneira de viver sem julgamentos; muito interessadas em cultura, fazer coisas, criar projetos, partilhar ideias… e isso, para mim, é espetacular. a vida boémia da cidade é outro mundo! por outro lado, há muita, muita gente, muito consumismo, muito barulho, e eu tenho saudades dessa vida mais solitária, de um sítio com menos pessoas e maior proximidade – numa cidade grande como esta, ter um contacto profundo com outra pessoa requer muito trabalho, as amizades são muito voláteis! por isso, muitas vezes, desejo ficar fechada na minha casinha e fugir assim de tanta agitação. como tudo, tem os seus prós e contras, mas vale a pena.
Saber mais sobre Isa Loureiro em: www.isaloureiro.com
Uma conversa muito boa e interessante, que venham mais. Parabéns!
GostarLiked by 1 person
Obrigada, querida Joana!
GostarLiked by 1 person
Foi um prazer conversar contigo e partilhar a historia deste meu e nosso projeto 🙂
GostarLiked by 1 person
prazer meu, também. nosso projeto 🙂
GostarLiked by 1 person
(…) mas gosto muito de saber o que as outras pessoas pensam e, sempre que posso, comparo isso com a minha maneira de ver e tento assim crescer um bocadinho também. sic
Saber o que o Outro precisa é abrir-se à sabedoria. Que assim te espera de sorriso fresco e largo.
Um beijo
GostarLiked by 3 people