a semana fez-se de dias tristes, cinzentos. cinzas. e o fim de semana não a livrou de sentir todo aquele peso e pesar acumulado. ainda lhe restou uma notícia boa, daquelas de encher o peito e de festejar, que mostra a vida aos círculos e o quanto já fomos e o que ainda estamos para ser. mas até isso lhe pesou, porque lhe abriu o peito e tocou lá fundo, onde mora uma cicatriz antiga, tantas vezes curada, tantas vezes por curar. então acordou assim, de corpo mole, a arrastar-se pela casa, com tanto para fazer e tão pouca vontade para tudo.
podia ter escolhido a fuga que o plano do dia lhe oferecia: havia a aula de yoga, a promessa de voluntariado, a casa para limpar, compras para fazer. havia distração. mas ela escolheu agachar-se diante o seu altar feito de cristais, incenso, vela, japamala, livros e rabiscos. e deixou toda a dor vir. e, com a dor, as lágrimas de sempre.
distrair-se de si não estava no plano daquele ou de outro qualquer dia e, por isso, quis as emoções por inteiro, nem boas, nem más, apenas tudo o que é, para o bem dela e o bem maior de todos: o belo e o horrível, a dádiva e a perda, a alegria e a tristeza. tudo veio, tudo foi. fez-se a pergunta: “e agora?” recebeu-se a resposta, ao abrir uma página ao acaso entre os poemas do Imperador Meiji: “se até as gotas de chuva podem fazer um buraco numa pedra dura, então não desistas facilmente, embora possa parecer difícil.”
então ela levanta-se sem pressas. sabe que mais emoções irão fluir e não se vai deixar assustar. levará o seu tempo.