há uma dor que começa e acaba no coração, como se desse a volta ao universo e retornasse a casa mais densa, pesada, miserável.
essa dor ora desce ao estômago, causando náuseas, ora sobe, esganando-me, esmagando-me, exigindo que respire conscientemente, longamente, como se fosse possível sufocar se de respirar me esquecesse.
nada sei sobre o sentido dela. porque veio, ao que veio, quando parte. podia evocar carmas, tentar entendê-la à luz das minhas crenças, mas não consigo, só a sinto e ela toma-me por inteiro. e enche-me de medo, medo maior de tudo o que está por vir, medo de viver e não aguentar.
há uma dor que começa, acaba, nauseia-me, esgana-me, esmaga-se-me no coração. a dor de já termos sido pais sem o saber. a dor da responsabilidade tida por tão pequena alma que ainda vemos e sentimos em todo o lado sem estar mais em lado algum. a dor de ainda há pouco estares aqui, matéria visível e palpável, e já não seres nada quando és tudo.