fluir

gosto das segundas-feiras, porque sem elas as sextas não teriam tanta espetacularidade, como gosto do nascer do sol para poder ver o pôr do sol, da lua nova para aceder a toda a luz da lua cheia, do frio molhado do inverno para saborear o calor da praia, do trabalho para ter férias.

aceito como nunca antes o que o dia me dá, todo o tempo. e, sempre que dou comigo a barafustar com o caos e o imprevisto dos dias, respiro fundo, observo e observo-me, tento perceber por que me sinto assim, porque não poderia ser de outro modo. nessa altura instala-se a paz, reanima-se a alma, e o momento flui com todo um encantamento para o qual antes estava cega. ao trabalho mais chato que tive de executar sucede-se a dádiva da criatividade para projetos que quero pôr em prática. às tarefas domésticas mais desgastantes sucede-se a harmonia na casa. depois dos programas mais inoportunos vem uma sensação de vida cheia.

as férias de outono que me dei o direito de gozar comigo mesma, para mim, saíram aparentemente frustradas. daquilo que estava planeado nada fiz. mas, sempre que deixo de resistir ao que o momento presente me oferece, sempre que aceito e sigo, fluindo, com o que o dia me traz, algo de extraordinário acontece. acedemos a muitas mais dádivas do que aquelas de que estávamos à espera.

por isso agora, que faço o balanço da semana, podia ver bagunça, caos e sono. estou longe já da tranquilidade e cor do brunch com que iniciei a semana. podia reclamar da falta de tempo ou do tempo que passa a correr. pura ilusão. estou de alma cheia. cheia de lições. cheia de ideias. cheia de vida. a criatividade, a expansão da consciência, a abundância que procuramos mora nos detalhes, nas nossas rotinas, nas nossas (aparentes) frustrações. basta atenção, basta deixar fluir, basta-me inspirar e sentir.