“o teu corpo pede que te responsabilizes”, disseram-lhe face à doença. e ela, que não o entendeu no imediato e a bem, acabou por entende-lo a mal, com o corpo a ressoar todas as dores.
não lhe fugiu, à doença, sabendo que ali um eu morria e outro renascia, a par da Primavera que despontava e das novas da lua cheia. percebeu, enfim, o quão responsável era por tudo o que tinha ou não vivido, por todo o bem ou mal experienciado. porque o que ela é, é-o por inteiro: menina calma ou mulher furacão, a que pede ou a que dá colo, a doce ou a amarga, a bondosa ou revoltada. luz e sombra. o melhor e o pior de si. e tudo isso assume, de vez, sem culpar ninguém ou sequer a si mesma, porque o que faz e manifesta, faz e manifesta-o em perfeita liberdade, consciente de que a todo o tempo teve/tem opções – continuar os estudos, saindo de casa e sacrificando relações, ou ir pelo caminho mais fácil e confortável; lutar pela ética no trabalho, pelo civismo na rua, por um melhor lugar para si neste mundo ou acomodar-se ao que lhe é dado; fugir ou ficar; agarrar ou largar.
virou-se para dentro, questionou-se, pôs-se em causa, pôs tudo em causa, olhando de frente as próprias sombras e, a cada confronto com forças que pareciam maiores que as suas, tratou de se render, deixar fluir, confiar que tudo, absolutamente tudo, tem um propósito e depende de si, de mais ninguém, de nenhum outro momento ou lugar, compreender e seguir caminho adentro.
não há azares ou infortúnios. não há maldições ou veneno. não há vítimas. há o lugar onde escolhemos estar e aonde nos conduzimos pelas opções que tomamos. há o que atraímos e fazemos com o que sentimos. há pedaços de aparente mau caminho.
o seu corpo pediu que se responsabilizasse. e ela responsabilizou-se… dona de si e do seu destino. agora curada. agora sim mimada, rainha, sortuda como a querem crer, porque assim se fez.