esqueci-me de mim. esqueci-me do meu centro, do meu ego, da música. esqueci-me de ouvir e dei por mim estática, pasmada, apenas a olhar. apenas a observar. a sentir o que me faziam invisivelmente chegar à pele. porque, mais forte do que a música, mais forte que o prazer de ouvir, assistir, a um concerto, era o prazer de vos ver a tocar, a estremecer com os instrumentos como se eles fossem prolongamentos dos vossos próprios membros. expansão. algo vos saía do corpo, para fora de vocês mesmos, e se apoderava das guitarras, do baixo, da bateria, do piano. vocês e os instrumentos a deixarem de ser uns e outros para se transformarem numa mesma coisa. unos. tão sós, tão compenetrados no vosso centro, tantas vezes de olhos fechados a estremecerem almas adentro. havia orgasmos múltiplos no palco e eu do lado de cá, os espetadores do lado de cá, feitos voyeurs a levar com os espetros tão vossos e já a deixarem de o ser.
há tantos concertos de bandas infinitamente mais conhecidas, incomparavelmente mediáticas, mas tão cheias de artifícios, fumos, luzes, roupagens, que apenas nos distraem, nos divertem, evadem… tão melhor assim, um tributo, um palco improvisado num pequeno bar, concerto de amigos para amigos e assim chegarmos à essência que vos move, músicos, instrumentos, música, arte.
esqueci-me de mim. esqueci-me de ouvir. mas ver-vos nesse transe foi definitivamente o maior prazer que tirei desta noite de tributo a Eric Clapton. parabéns, Clapton’s Addiction.
(concerto dos Clapton’s Addiction, 11/04/2015, no Doo Bop, Espinho)
🙂 Adorei a apreciação que faz e a forma como a expressa. Captou mesmo a essência do que sinto quando toco e procuro sentir quando se faz música. Obrigado.
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eu é que sou grata por tamanha noite e por me darem a conhecer a vossa essência 🙂
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