a facilidade com que na net se soltam e partilham palavras traz esta fatalidade: vazio. há demasiadas palavras cuspidas da boca p’ra fora (nem isso, teclado afora) sem serem sentidas, refletidas, questionadas. vazias. e entre os dizeres mais ocos que por aí tenho visto consta a definição (fraca, pobre, vazia) da amizade.
diz-se por aí que a vida varia entre os 2000 amigos no facebook e nenhum nas horas difíceis ou na derrota. não, na equação da amizade não entra nem o número de amigos no facebook nem o número de amigos nas festas ou na rua. é ridículo considerar tais premissas. são vazias. e recuso-me a contar apenas com Deus na derrota… ele é demasiado grande para caber num personagem só. recuso-me ainda reconhecer amigos só nas horas difíceis ou na derrota. as contas fazem-se também nos momentos mais vitoriosos, marcantes, determinantes.
não me preocupa tanto a autoria de dizeres tão vazios, preocupa-me muito mais o vazio em que caímos quando partilhamos estas palavras, tão proporcional ao facilitismo com que nos deixamos estar quietos no nosso canto a dizer “Eu estou aqui e o outro é que Me magoa, não Me procura, não Me compreende”. que ilusão… é essa que me atormenta: a ilusão. o egoísmo. o egocentrismo. basta fazermos o simples exercício de imaginar o que seria se todos pensássemos assim… um simples exercício e compreenderíamos rapidamente que somos o outro que outro Eu julga e aponta como estando em falha.
colhemos o que semeamos. sejamos então capazes de não cair nas palavras ocas, nos lugares comuns, nos julgamentos fáceis… e como é mais fácil apontar o dedo no lugar de encararmos as nossas próprias sombras! estaremos a dar a nosso melhor pelo outro? estaremos a assumir o papel de cuidar, mimar, lembrar, partilhar, estar presente?
não há planta que floresça sem ser regada. não há nada de estático na natureza. esperar que o outro esteja lá só quando nos convém, nos dá jeito, nos sentimos sós… não é amizade. que as contas se invertam, que os comportamentos se sobreponham às palavras, que sejamos honestos com nós mesmos: o que estamos a atrair?
uma boa Páscoa para todos!