não. amor não é fogo que arde sem se ver. é lembrança de que já fomos um só e sentimento que se constrói a cada dia. é dor que se ultrapassa e alegria que tudo cura. é desilusão que se esquece e surpresa que se retém.
não. não há amor perfeito. porque um é diferente do outro e não está acima do outro e não pode reivindicar do outro o que algum dia imaginou que ele fosse sem o ser. porque há negociações e renegociações que não vêm escritos nos romances e porque não se pode buscar numa cara metade a metade que só dentro de nós habita.
e não, não há amor eterno se não entendermos tudo isto; se não entendermos que a dias eufóricos se podem suceder dias profundamente tristes, sucedidos de outros tantos dias profundamente alegres; se não entendermos que cada parte tem caminhos próprios que se cruzam, enlaçam e descruzam até que se voltam a cruzar, dias, semanas, meses, anos volvidos; se não entendermos que adoece – e é a doença mais difícil de suportar e superar.
o amor acontece entre quem toma consciência dessa doença e a enfrenta na convalescença, demência, até haver sinais de cura, até se curar.
o amor, esse que não arde e não é perfeito mas que pode ser eterno, acontece quando duas almas se acolhem e decidem caminhar juntas para a realização de propósitos maiores. quando acima da paixão, do sexo desenfreado, das vontades egoístas se coloca a vontade de se ser companheiros na vida e na morte de cada momento dos nossos dias.