até ali, ela havia lutado contra o que a magoava, indignava, revoltava com as mesmas armas com que lhe arremessavam. se a chateavam, chateava-se. se a atormentavam, atormentava-se. se lhe gritavam, gritava. acabou por perceber que para lá dessas formas, feitas irritação, rancores, mágoas, havia seres que permaneciam inalteráveis. eram esses que amava, os seres, a essência de que eram feitos, não as formas e suas variadas manifestações, reações. e lembrou-se da mãe, a relembrar a avó: “tudo nesta vida se leva com mel, não com fel.” mudou de armas e passou a responder “amor” aos gritos e à dor. afinal, “dar a outra face” era desarmante.
não andaria a verdade da avó e mãe muito longe daquela outra ditada por Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.” ou daquelas outras que, nos contos de fadas, transformam sapos em príncipes que acordam princesas. talvez até seja assim que lagartas passam a borboletas. não importa. ela não se interessa assim tanto por explicar as metamorfoses, mas gosta de assistir à força que tudo movimenta.