foi como se ali sempre tivesse vivido, estado, pertencido. ainda mal tinha entrado na vila, via as primeiras árvores, a primeira neblina a penetrar todo aquele verde monte acima, e já me rendia – encantava! – com aquele lugar que me acolhia e ressoava “que bom ver-te”!
tudo – pedra, terra, vegetação, pássaro, sol, lua, mar – me tocava e criava ressonâncias meu ser adentro. todos os dias, a todo o momento, cada vez mais forte, cada vez mais consciente, sobretudo quando me perdia nos trilhos que partiam do Almáa, sobretudo quando me embrenhava nas grutas da Quinta e seus túneis, torres acima adivinhava-lhe os mistérios e percebia, sem guias, a representação que ali se fazia do microcosmos e da ascese de consciência.
auras tocavam-se. e havia felicidade, plenitude e serenidade nesse toque.
nunca me tinha sentido tão tua, nunca te tinha sentido tão minha. e por isso o momento de partir foi duro – estava preparada para chegar, não para partir – mas quis o destino desfazer-me os planos desse dia e empurrar-me para trás, monte acima, para mais um dia no teu meio.
foi como se me tivesses chamado para nos despedirmos. e lá no alto, feita vento e horizonte, abraçaste-me. e rimo-nos. mais aquietada, fui capaz de te largar e dizer: até qualquer dia. parece que é mesmo este o caminho que temos de encetar a todo o momento: tu a veres-me a partir, partida de ti; eu a ter de aprender a viver assim, separada, afastada, terra-mãe.