há um silêncio ensurdecedor quando ficamos a sós no Caminho.
há o sopro do vento a bater contra árvores, a bater contra folhas, a bater-nos contra o corpo; a batida das asas de borboletas, o cricrilar de grilos e o chilrear de pássaros; o calor a quebrar galhos, galhos a estalarem no chão, chão a levantar pó; a água a correr em riachos, a escorrer entre pedras, a chapinhar em poças de lama e no musgo; os passos, os nossos passos, pesados, arrastados, contra pedras, contra terra, contra palha; o toque do cajado a confundir-se com o pulsar do sangue que nos corre nas veias e o roçar da mochila contra as costas quentes, suadas, amachucadas, a confundir-se com as costas, a misturar-se no peso que somos.
e há vozes, muitas vozes, vozes que não se calam. vêm de todo o lado: dos peregrinos que se cruzam connosco, dos aldeões embrenhados nas suas rotinas, da nossa mente, da nossa imaginação, do mais fundo de nós.
há silêncio em todo este ruído, ruído só audível no meio de todo este silêncio, a meio do Caminho, no meio de nós.