no caminho sanabrés IV

etapa IV: outeiro

outeiro, depois de 33 quilómetros bem custosos e de só encontrar-se um canto no chão do albergue para dormir. mas valeram-me as pontes romanas e os bosques encantados; o admirável grupo de freiras a fazerem o Caminho com os seus trajes impecavelmente brancos mas dispensando o conforto de um carro de apoio – também elas carregavam uma mochila às costas (e isso faz tanta diferença para que tudo tenha sentido nestes trilhos!); o aldeão que me oferece água e aquele outro que, de carro, ao ver cansaço e desânimo no rosto, abranda só para me levantar o braço, sorrir e dizer “a Santiago solo faltam 40km”; o gato a tomar conta da ordenha e vacas, cabras e ovelhas nos pastos.

valeram-me sobretudo as gargalhadas nos momentos quilhados, as fontes de água gelada nos momentos “não aguento mais”, as respostas nos momentos que não estão escritos nos roteiros… não são meras peripécias. são vivências únicas e complexas, que a língua mal sabe decifrar. são pés e pernas em combate o dia inteiro, o som dos passos e do cajado contra o chão a tomarem conta de nós. estamos preparados para a última etapa, onde nos aguardava as “tostadas” da Carminha no Café Rosende com direito a uma festinha no rosto e a um beijo de autêntica ternura e gratidão – gestos que fazem crescer a nossa capacidade de ser e de retribuir – e o sítio onde ocorreu o mais recente e trágico acidente de comboio – lugar de assombro e respeito.

 

 

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